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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Desapego

        Naquele dia acordou cedo. Não era de seu costume, porém estava inquieto demais para continuar na cama. De hora em hora pesadelos horríveis o acometiam. E, por mais que rezasse ajoelhado ao lado da cama, nenhum Deus descia da cruz para ajudá-lo, nenhum sinal de que tudo terminaria bem lhe era dado.    Acordara para aquele que poderia ser seu último dia. Dali a algumas horas passaria por uma delicada cirurgia, e, o médico já havia lhe avisado das chances de não sair mais da sala cirúrgica. Aquilo lhe acometera como um soco no peito. Sentado na cama, ele repensou em toda a sua vida e se perguntou onde é que havia errado, o que fizera pra chegar até ali.    Agora a revolta já havia passado. Aquelas questões de porque o resto do mundo parecia tão perfeito e feliz, enquanto ele se torturava com seus medos inseguranças, já não o acometiam com tanta frequência quanto antes. Parecia ter se conformado, até. Se conformado em ser um alien, diferente de todos, um aspirante a

A Minha Única Exceção

  Durante toda a minha infância e adolescência eu presenciei meus pais brigando. Eram gritos, insultos de ambos os lados e até ameaças de agressão física. Poderia ser somente uma fase, eu pensei por algumas vezes. Uma fase que durou anos.    Certo dia, no auge dos gritos, eu berrei ainda mais alto implorando que parassem com aquilo. Ao perceber meu estado de desespero ambos silenciaram, encarando o chão, certamente decepcionados consigo mesmos. Então vos perguntei por que é que continuavam juntos, pra que manter uma relação que os desgastava e ao mesmo tempo me traumatizava tanto? Era por prazer, sadomasoquismo, vingança? A resposta, lhes garanto que nem eles sabiam. Haviam se acostumado com certo tipo de tristeza, pareciam orbitar envolta daquele clima pesado no qual eu era obrigado a conviver também.     Estavam a mais de vinte anos juntos, porém chegou um momento em que eu me perguntei se algum dia eles realmente chegaram a se amar verdadeiramente. A conclusão á que

Desencantado

        — Ai meu Deus! — Gritou Gustavo saindo de uma das baladas mais populares da cidade ao mesmo tempo em que procurava o celular nos bolsos da calça. Olhava para todos os lados a beira das lágrimas, certificando-se de que Marina, a melhor amiga, não viesse ao seu encontro. — Oh, vida de merda! — Repetia ele discando um número no aparelho enquanto as lágrimas inevitavelmente jorravam de seus olhos como o sangue de uma artéria cortada. A verdade é que se sentia pior do que uma fralda geriátrica usada e dificilmente conseguiria mudar esse status, o telefonema que estava prestes a fazer, pelo ao menos, amenizaria seu estado de espírito. Descarrego de consciência, como se diz por aí.      Não que a festa não estivesse boa, pelo contrário, se divertira á beça, e, bom, é verdade que bebera um pouco, mas nada que o fizesse confundir churros com um pênis comestível. O que lhe fez sentir-se assim foi meia dúzia de beijos trocados com Pedro. Porém não pense que Pedro beijava mal,