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Mostrando postagens de 2013

Sobre Partidas

   Julguei ser impossível amar tanto alguém sem obter o mínimo de reciprocidade.    Como sempre que julgamos, estava errado.    Minha visão errônea de um mundo inexistente desfazia-se.   Era como o fim de um ciclo. Um doloroso processo de perca da inocência, daquele pensamento de discurso amoroso tão belo que sempre me foi cultivado.   Pus meu sentimento para dormir, alojei-o em algum canto escondido do meu ser, e não foi por escolha. Foi necessidade. Precisava parar de gastar tantas energias, de me doer. Porém ele continua lá, e eu lhe aviso que tem sono leve, portanto não tente acordá-lo, pois ambos sabemos que ele nunca virá a ser realmente no viver, apenas no papel.   Prometo nunca mais tocar no assunto se me prometeres nunca retornar, não deixar mais seu cheiro impregnado na minha pele, nem sorria com o canto da boca. Só quero que o deixe dormir. Como todo animal selvagem, meu coração não deve ser perturbado, deve ficar lá, isolado de todo e qualquer perigo,

Angústia

       O gesto de te abraçar parece realizar por um momento o sonho da união total contigo. É um instante de sono, sem dormir, é quando tudo fica suspenso: o tempo, a lei, a proibição: nada cansa, pois todos os desejos parecem transbordar-se, saciar-se.    Tal transbordamento existe, e vou querê-lo sempre, vi-me viciado. Teimarei em querer reencontrar, renovar, saciar o desejo de uma nova união – da contradição – da contração de um novo abraço.    Ao longo de minha vida posso encontrar milhares de corpos, desejar metade deles, relacionar-me com dezenas, porém amo apenas um. Designo a você toda a especialidade do meu desejo. É uma “escolha” rigorosa que só retém o Único. E foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez até muitas procuras) para que eu encontrasse a Imagem, que entre mil, convém ao meu desejo. Foi necessária muita sorte (azar?) para que eu encontrasse você.   E agora, depois de algum tempo eu paro e pergunto a mim mesmo o que ta

A Iminência Das Poéticas

     O título desse texto foi também o tema da trigésima bienal internacional de arte; A Iminência das Poéticas, dos dizeres subjetivos injetados nas obras por cada um dos artistas. Do poder reflexivo que elas nos proporcionam, trazendo á tona questões que não havíamos parado para pensar antes, e, que, muitas vezes estavam diante de nossos olhos, porém a vida cotidiana não nos permitia perceber.    O grande desafio enfrentado tem sido justamente o de agregar essa dimensão poética da arte em seu poder de oferecer outra voz e outro olhar á ação educativa, que valoriza outros modos mais convencionais e didáticos de significar as vivências artísticas.    Devemos, antes de tudo, deixar de encarar a arte como algo unicamente racional, conceito que foi criado o Renascimento e veio sendo cultivado em outros estilos, onde sua produção era extremamente técnica. Devemos tirar o verniz cultural que a reduz ás “Belas Artes”.    Podemos implementar na educação da arte outra lógic

Tudo Aquilo Que Nunca Foi Dito

          Há algum tempo gostaria de falar sobre as palavras que insistem em travar na minha garganta, e, que cedo ou tarde podem me sufocar. Gostaria de me livrar desse terrível mal: O de não conseguir verbalizar o que se sinto.    Talvez por incompetência, falta de experiência, ou porque não chegou o momento certo de lhe dizer tudo. Os motivos eu desconheço. Prometi a mim mesmo que seria corajoso e levaria essa história até o final. Prometi que nada abalaria o amor que sinto por ti, e que jamais permitiria que as pessoas tentassem desestruturar as coisas nas quais acredito.    Eu prometi tantas coisas...    Dos escritos arquivados, do sentimento gravado á tinta no papel, de tudo aquilo que lhe escrevi, mas não tive coragem de entregar. Cada palavra lutando dentro de mim, abrindo caminho garganta afora como se tivessem garras e vacilando na ponta da língua, cada grito ensaiado frente ao espelho... Cada tentativa falha de provar que lhe amo. Tudo aquilo

Desapego

        Naquele dia acordou cedo. Não era de seu costume, porém estava inquieto demais para continuar na cama. De hora em hora pesadelos horríveis o acometiam. E, por mais que rezasse ajoelhado ao lado da cama, nenhum Deus descia da cruz para ajudá-lo, nenhum sinal de que tudo terminaria bem lhe era dado.    Acordara para aquele que poderia ser seu último dia. Dali a algumas horas passaria por uma delicada cirurgia, e, o médico já havia lhe avisado das chances de não sair mais da sala cirúrgica. Aquilo lhe acometera como um soco no peito. Sentado na cama, ele repensou em toda a sua vida e se perguntou onde é que havia errado, o que fizera pra chegar até ali.    Agora a revolta já havia passado. Aquelas questões de porque o resto do mundo parecia tão perfeito e feliz, enquanto ele se torturava com seus medos inseguranças, já não o acometiam com tanta frequência quanto antes. Parecia ter se conformado, até. Se conformado em ser um alien, diferente de todos, um aspirante a

A Minha Única Exceção

  Durante toda a minha infância e adolescência eu presenciei meus pais brigando. Eram gritos, insultos de ambos os lados e até ameaças de agressão física. Poderia ser somente uma fase, eu pensei por algumas vezes. Uma fase que durou anos.    Certo dia, no auge dos gritos, eu berrei ainda mais alto implorando que parassem com aquilo. Ao perceber meu estado de desespero ambos silenciaram, encarando o chão, certamente decepcionados consigo mesmos. Então vos perguntei por que é que continuavam juntos, pra que manter uma relação que os desgastava e ao mesmo tempo me traumatizava tanto? Era por prazer, sadomasoquismo, vingança? A resposta, lhes garanto que nem eles sabiam. Haviam se acostumado com certo tipo de tristeza, pareciam orbitar envolta daquele clima pesado no qual eu era obrigado a conviver também.     Estavam a mais de vinte anos juntos, porém chegou um momento em que eu me perguntei se algum dia eles realmente chegaram a se amar verdadeiramente. A conclusão á que

Desencantado

        — Ai meu Deus! — Gritou Gustavo saindo de uma das baladas mais populares da cidade ao mesmo tempo em que procurava o celular nos bolsos da calça. Olhava para todos os lados a beira das lágrimas, certificando-se de que Marina, a melhor amiga, não viesse ao seu encontro. — Oh, vida de merda! — Repetia ele discando um número no aparelho enquanto as lágrimas inevitavelmente jorravam de seus olhos como o sangue de uma artéria cortada. A verdade é que se sentia pior do que uma fralda geriátrica usada e dificilmente conseguiria mudar esse status, o telefonema que estava prestes a fazer, pelo ao menos, amenizaria seu estado de espírito. Descarrego de consciência, como se diz por aí.      Não que a festa não estivesse boa, pelo contrário, se divertira á beça, e, bom, é verdade que bebera um pouco, mas nada que o fizesse confundir churros com um pênis comestível. O que lhe fez sentir-se assim foi meia dúzia de beijos trocados com Pedro. Porém não pense que Pedro beijava mal,