O título desse texto foi também o tema da trigésima bienal
internacional de arte; A Iminência das Poéticas, dos dizeres subjetivos
injetados nas obras por cada um dos artistas. Do poder reflexivo que elas nos proporcionam,
trazendo á tona questões que não havíamos parado para pensar antes, e, que,
muitas vezes estavam diante de nossos olhos, porém a vida cotidiana não nos
permitia perceber.
O grande desafio enfrentado tem sido justamente o de agregar essa
dimensão poética da arte em seu poder de oferecer outra voz e outro olhar á
ação educativa, que valoriza outros modos mais convencionais e didáticos de
significar as vivências artísticas.
Devemos, antes de tudo, deixar de encarar a arte como algo unicamente
racional, conceito que foi criado o Renascimento e veio sendo cultivado em
outros estilos, onde sua produção era extremamente técnica. Devemos tirar o
verniz cultural que a reduz ás “Belas Artes”.
Podemos implementar na educação da arte outra lógica – a poética – que não
nos fornece explicações sobre o mundo, mas experiências do e no mundo. É ato,
não apenas discurso sobre, não se tratando apenas de consumir conhecimento, mas
favorecer aprendizagens que tenham como base a experiência, a vivência do
mundo. É nesse processo de decifrar o mundo que se dá a experiência poética. Um
ato que se elabora para além das palavras, que não precisam ser verbalizados,
basta apenas o corpo agir.
Para o poeta Valéry (1999, p.191), “na produção da obra, a ação vem sob
a influência do indefinível” e não pelo definível pela clareza conceitual dos
logos. As coisas, a todo o momento, nos interrogam e exigem de nós ações no
mundo. Exige que inscrevamos um sentido naquilo que não tinha, indo além do
palpável, do óbvio, do objetivo.
Já dizia Aristóteles – Acredito que a arte esteja fortemente embasada na
filosofia, por esse motivo cito Aristóteles aqui – em Arte Poética, que o que está sendo dito, sem deixar de ser claro,
não deve ser “rasteiro”, devendo antes ser “nobre” e, de preferência, afastado
do uso vulgar.
A transformação da arte em matéria – no produto final – implica em todo
um processo de criação, onde materializamos, deixamos a marca de tudo o que
sentimos, de toda a concepção que criamos sobre o mundo e as coisas que o
cercam, através de nossas experiências.
É uma captura-escuta de mim, que eu não sabia poder realizar, que faz
com que eu aprenda a transformar meu pensamento, emprestando uma existência
poética ás coisas que me cercam.
Explorar e investigar uma série de matérias-primas, faz parte da
experiência tanto de artistas quanto de professores de arte, e isso requer um
extenso conhecimento e uma imensa variedade de possibilidades técnicas.
Entretanto, de nada serve a técnica se dentro dela não estiver uma alternativa
que possa adequar-se á poética daquele que a projetou.
Nossa única saída – não somente na escolha de materiais, mas também nos
critérios avaliados para se fazer alguma criação – é nos arriscarmos.
Aguardamos sempre pelo imprevisto, pelo impensado, por aquilo que nos fará
perceber que a busca valeu a pena. Todo esse tempo que passamos em busca de
respostas é necessário, é um tempo de aprendizagem, de coleta de experiências e
vivências, e por mais que consigamos responder á determinada questão, não
teremos muito tempo para descansar, pois logo surgirá uma nova pergunta, e só
suportamos essa ausência de respostas, por acreditarmos que na pergunta que
reside o impulso de toda a atitude criadora.
Questionar nossos modos de pensar e agir em educação pode nos
desestabilizar, mas também pode promover o confronto necessário para sairmos do
lugar em busca de outros modos de pensar os processos de aprendizagem na
especificidade das linguagens plásticas. Desse modo a “desacomodação” nos
permite perceber as fronteiras entre o exterior o interior, mente e corpo, ser
e mundo de modo permeável e distinto do habitual.
Trabalho teórico realizado na disciplina de Pintura I.
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