Depois
do ocorrido sentou-se frente à TV de sua casa e por várias horas ficou a
observá-la, porém sem nada ver. Era como se tivesse voltado a viver em outra a
dimensão – aquela que nunca, em hipótese
alguma, deveria ter saído.
Eram quase duas da manhã quando se
deu conta de que deveria acordar cedo para se dirigir ao trabalho na manhã
seguinte. Desligou a TV e esticou-se para a mesa de centro, tomando seu
computador nas mãos; acessou suas principais redes sociais e desativou-as, era
preciso sumir por algum tempo, afinal era assim mesmo que se sentia; invisível.
O
computador aberto em seu colo era a única fonte de luz no local agora, e, assim
que o fechou, as sombras deitaram sobre si, mas agora elas não pareciam mais
pesadas a amedrontadoras como quando criança. Agora, as sombras, o escuro, a
reclusão, pareciam estranhamente reconfortantes. De um modo ou de outro sempre
acreditou mais no poder das trevas que na luz. Era na escuridão, nos momentos
em que se encontravam totalmente sozinhos e sem conseguir enxergar um palmo a
frente dos olhos que as pessoas passavam pelas maiores provações, e somente
pessoas que passaram por tais situações poderiam compreendê-lo.
Não
há utilidade – tampouco sentido – em discutir com pessoas que sempre tiverem
tudo na vida, pensou antes de se levantar e se
dirigir ao banheiro.
Sem esbarrar em canto algum ele
encontrou a porta do banheiro, abriu o pequeno armário que guardava seus
objetos de higiene pessoal, escovou os dentes, depois lavou o rosto. O pequeno
facho de luminosidade que entrava pela janelinha a sua esquerda iluminava parte
de seu rosto no meio de todo aquele breu como a cena de uma pintura barroca. Pôde
vislumbrar o inchaço de seus olhos e o brilho enaltecido por uma lágrima que
insistia em sair; levou o dedo ao olho e recolheu-a, observou aquela gotícula
na ponta de seu dedo e levou-a a boca, queria sentir – literalmente – o gosto
da sua dor.
Finalmente decidiu-se deitar, fechou
a porta do quarto as suas costas, despiu-se e se lançou para a cama. Seus olhos
já estavam habituados à escuridão, de modo que podia vislumbrar a silhueta dos
móveis, e, por um segundo, foi como se pudesse ver os movimentos dele dentro de seu quarto, fechou os
olhos e deitou-se para o canto da cama a fim de deixar um espaço ao seu lado
para que ele pudesse se aninhar ali. E naquele breve instante foi como se
realmente pudesse Senti-lo do seu
lado; o toque, o cheiro, a textura de sua pele. Porém tal sensação foi apenas
momentânea, logo se lembrou de que era ele quem havia deixado aquele arrombo em
seu peito.
O amor ainda existia, podia senti-lo
latente em seu corpo, porém não havia mais volta. Por mais que houvesse
arrependimentos de ambas as partes, ele não se permitiria entregar seu coração
e ficar a mercê das decisões de alguém novamente.
Se
tinha de permanecer sozinho, faria da solidão sua armadura.
"O que Está Fora se Expande" - Ale Schappo |
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